Ano: 2015

AS FRONTEIRAS DA GUERRA (II – A Noite de Todos os Perigos)

As balas continuam a cruzar os céus em Trás-os-Montes. Missão a missão, as forças do spetsnaz avançam na direcção do seu destino. O único destino que aceitam conhecer. A noite começa a cair. Estes homens ainda não sabem, mas o destino vai-se apresentar na escuridão. O meu nome é Viktov Malu. E esta é a história que eu trouxe quando atravessei as fronteiras da guerra.

AS FRONTEIRAS DA GUERRA (I – Fúria ao Entardecer)

Chaves esteve em guerra. Durante 48 horas, jipes com metralhadoras, antiaéreas, camiões militares e mais de uma centena de “soldados” invadiram as montanhas de Trás-os-Montes. “Dark Revelation” é considerado o evento de airsoft mais realista do país. Tudo é meticulosamente organizado de forma a oferecer aos participantes uma experiência de combate real. Ao longo de uma saga que já contabiliza quatro eventos, foi criado um enredo cheio de detalhes e com nações e exércitos ficcionais. O nível de genuinidade é tão extremo que durante 48 horas as fronteiras entre a realidade e a simulação misturam-se, tornam-se ambivalentes. Quando essa linha indefinida é atravessada – e estes homens atravessam-na – a única diferença é que as “balas” são de plástico.
Acompanhei o evento como repórter de guerra e integrei um batalhão de forças especiais russas (Vityaz). Atravessei com eles as florestas, vivi com eles nas trincheiras, partilhei as suas sensações.
Uma dúvida subsistia. Como se cobre um evento onde se tenta recriar a realidade ao mais ínfimo detalhe? Talvez só haja uma forma de o fazer. Como se tudo fosse, efetivamente, real!
Por isso, a partir deste momento, o meu nome é Viktov Malu. E esta é a história que eu trouxe quando atravessei as fronteiras da guerra.

UMA JORNADA AO PASSADO

Não me lembro se a visitei antes, mas tenho a certeza que foi em 2007 que me apaixonei por ela. Foi nesse Verão, nessa sexta-feira, que decidi que ela não ia ser uma feira. Seria uma viagem. E eu jamais seria um visitante. Ia ser um viajante. E algures durante essa decisão, apaixonei-me. Assim, do dia para a noite. Do presente para o passado. Guardei para sempre o manuscrito onde registei essa primeira viagem. Não guardei as palavras só para mim. Partilhei-as à primeira luz de Domingo. Primeiro com o Norte. Depois com todo o país. Hoje partilho-as contigo.

A GUARDIÃ DE CAVALOS DE FERRO

Durante décadas, habituámo-nos a ver a guarda da passagem de nível a sair dos seus cubículos de tijolo e telha e a atravessar a estrada com uma corrente na mão ou a manejar a cancela que delimita a passagem. Eram elas que controlavam o tráfego de carros e peões durante a passagem dos comboios. Já a passagem do tempo é incontrolável e a Refer tem vindo a suprimir e reconverter as passagens de nível com meios automatizados. Junto à linha do Vouga, a única linha de via estreita ainda em funcionamento no país, encontrámos uma destas profissionais, que aceitou partilhar connosco o seu cubículo e o seu quotidiano. Testemunhámos os hábitos, motivações, métodos e receios de uma profissão em vias de extinção.

POR ESSE RIO ACIMA

O calor de verão quase derretia o asfalto do Porto e eu estava sedento de uma reportagem ao ar livre. Falei com os meus editores, enchi uma mochila com tralhas e parti para os confins nortenhos de Portugal. Esperava-me uma expedição em canoa ao longo de quatro dias e quase 100 quilómetros pelas águas azul-esmeralda do desfiladeiro selvagem do Douro Internacional. A aventura transformou-se numa reportagem de quatro capítulos, intitulada “Por esse Rio Acima” e publicada nos primeiros dias de Setembro de 2007. Está agora disponível para ser lida na íntegra. Uma aventura à força dos remos à distância de um clique.

AREIAS NOCTURNAS

Hoje morreu Ben E. King. Recordo-o com um texto que escrevi numa madrugada há meia década, sobre momentos ainda mais antigos e ilustrados pela música dele. Retratos da espontaneidade da juventude, que viaja livre e eterna com o vento nocturno das noites de verão a ouvir o mar.

PAREDES HUMANAS

Olho para a sua estrutura clássica, com o seu telhado em V e a chaminé num dos cantos. A porta pintada de azul, um azul desmaiado e ao mesmo tempo vívido, como um olhar nórdico. O arbusto que espreita à janela, as sombras desenhadas pelas árvores de fruto e a forma bucólica como o vegetação a contorna, como uma ilha num oceano de águas verdes. Que belo, que sereno será o barulho trémulo dessas águas nos dias de vento, tal como o silêncio nocturno dos céus estrelados, apenas perfurado por cantigas de grilos e cigarras. E olho as suas cicatrizes, inúmeras, que tantos segredos vincarão consigo.

SEMEAR A INSPIRAÇÃO

O acto de semear é cada vez menos natural. A artificialização é deliberada e tem desígnios bem enraizados no controlo industrial do sistema alimentar. As consequências fazem-se sentir a vários níveis, alguns roçam o macabro. Há cada vez mais pessoas atentas a essas raízes e determinadas em arrancá-las. Uma jovem realizadora portuguesa é uma delas. «Seed Act» é a sua enxada.

O PUTO QUE CRUZOU A EUROPA NO DORSO DE UMA SCOOTER «III – Espanha»

O jovem aguedense continua a acelerar a fundo na sua scooter. Está atravessado o segundo país, seguem-se mais quatro até alcançar a tão ambicionada concentração motard na Alemanha. Este é o terceiro capítulo de uma reportagem inédita e exclusiva, onde serão contadas todas as histórias por trás de uma aventura que muitos consideraram impossível, até um puto misturar sonho com determinação e provar o contrário.

TREVAS DE ESPLENDOR

O Café fica no Porto. Todas as segundas-feiras é possível descer umas escadas de madeira e aceder a uma cave onde se recita e partilha poesia. Já o conhecia e até já o frequentava, quando fui enviado para cobrir a noite do vigésimo aniversário da iniciativa. Estive algumas horas dessa tarde a conversar com o criador dessa rotina que se enraizou no quotidiano cultural da cidade, o poeta Joaquim Castro Caldas. À noite, regressei à cave para o ver em ação. Fui desafiado pela minha editora a escrever um texto diferente, com alguma ambivalência, que fosse poético sem deixar de ser jornalístico. Gostei do desafio, embora soubesse que ele era impossível. Pedi para o escrever em casa, durante a noite. Comprei uma garrafa de vinho e tranquei-me na sala com os meus apontamentos e um teclado. Quando a luz entrou pelas janelas, estava escrito e embora tivesse consciência que tinha falhado, sentia-me inebriado com a tentativa. Cinco meses depois, o poeta morreu. Este foi o meu testemunho dessa noite.

CAMINHANDO SOBRE AS ÁGUAS | O TRILHAR DA AUDÁCIA

A visibilidade era quase nula, mas quando Pedro Pacheco limpou a neve do visor do altímetro, este marcava 8300 metros. Era a maior altitude alcançada por um português no monte Everest. Estava a apenas 550 metros do topo do mundo, mas quando a tempestade se intensificou, foi confrontado como o eterno dilema da alta montanha. Prosseguir ou abortar. Avaliou e resolveu seguir o conselho da sua intuição que, calejada pela experiência, lhe garantiu imunidade à “febre do cume”, que já encaminhou tantos alpinistas para a morte.
A história tende a apenas emoldurar os primeiros a alcançar o topo – e ele foi alcançado cinco anos depois por um português (João Garcia) – mas por trás da moldura estão aqueles que ousaram avançar primeiro e trilhar. Pedro Pacheco é um deles e contou-me a sua história numa reportagem publicada em 2007 intitulada “O Trilhar da Audácia”. Não ficámos pela conversa. Levou-me também a atravessar desfiladeiros, explorar grutas subaquáticas e a descer cascatas em rapel, numa atividade que ele introduziu em Portugal, o Canyoning. Também essa aventura se transformou em reportagem: “Caminhando Sobre as Águas”.
Duas reportagens que hoje recordo, na expectativa que a brisa de aventura que ainda carregam vos despenteie sensorialmente.

MANSON: CULTO DE PERSONALIDADE

O verão de 1969 de Los Angeles viu o seu azul resplandecente ser tingido com sangue. Em duas noites de agosto, sete pessoas, incluindo uma estrela de cinema, foram assassinadas de forma macabra. A cidade acordou amedrontada e cheia de interrogações, todas distantes da crua realidade. Quais os desígnios e motivações? De que tecido foi cosido o vasto manto de cumplicidades que aconchegou um dos assassinos mais mediáticos da história?