Dia: 16 de Fevereiro, 2015

AS BRUXAS E A CIDADE

Há uns anos decidi fazer um artigo de fundo sobre o Halloween. Falei com historiadores, antropólogos, comerciantes, membros da comunidade americana do Porto, donos de videoclubes, empresários da noite, tipos mascarados na rua e até com um individuo que reservou a noite para estabelecer contacto com fantasmas. Apesar de não ter ouvido as almas penadas, fiquei com a agradável sensação que não ficou nada por dizer.

UM BAIRRO À MARGEM DA LEI

Fiz várias reportagens nos bairros problemáticos do Porto. Bastou a primeira para constatar que os jornalistas eram seres banidos desses locais. Os meus colegas contavam-me histórias de agressões, apedrejamentos aos carros de reportagem, fotojornalistas agredidos e máquinas fotográficas destruídas. Não me senti desencorajado, apenas tomei precauções estratégicas. Passou a ser hábito não fazer a barba alguns dias antes das reportagens serem agendadas, envergava boné e roupa mais desportiva, deixava o carro do jornal a vários quarteirões do bairro ou ia de autocarro para lá. Esses pequenos truques camaleónicos resultaram (conseguir envergar a pele de um camaleão é uma aptidão que considero fundamental para qualquer verdadeiro jornalista) e não só consegui deambular livremente pelo bairro como consegui obter a confiança de algumas fontes locais. No entanto, escolhi este texto que nem é tão direcionado ao quotidiano do bairro, mas à contenda política em volta dele. Quando o escrevi, percebi que resolver o problema da criminalidade no bairro mais violento da cidade nunca foi uma prioridade. Havia meios mas não havia intenção. Ele tinha de continuar violento, pois só assim se justificaria a medida que viria a ser adoptada mais tarde.

A GUARDIÃ DOS MARES

Descobri-a recortada no azul do mar e do céu de Vila do Conde. Soube que ela tinha resistido às décadas, ao vento e ao temperamento do mar. Que um dia albergara homens que lá dormiam em velhos beliches de madeira, sempre prontos para despertar e, num ápice, enfrentar o arreliado oceano noctívago em busca dos náufragos. Não descansei enquanto não lá entrasse e lhe assaltasse as memórias.

GRINDHOUSE – A IGNÓBIL USURPAÇÃO

Fiquei fascinado quando soube do projeto artístico de Tarantino e Rodriguez. Entusiasmando, falei sobre o assunto a alguns amigos nessa mesma noite. Imaginava-me a combinar sessões temáticas no cinema, recheadas de pipocas, bebidas alcoólicas escondidas, filmes genialmente maus e boa disposição. Algumas semanas depois, o plano foi por água abaixo, empurrado pelas mãos avarentas dos irmãos Weinstein. Fiquei irado, tive de exorcizar a ira e assim nasceu este texto.

MEDO (NÃO) É PASSAGEIRO

Nos últimos meses de 2007 multiplicavam-se os assaltos a taxistas na cidade do Porto. Muitos eram agredidos, alguns assassinados. Como segui alguns desses casos, propus uma reportagem aos meus editores: passar a noite no banco da frente de um táxi a percorrer as estradas da Invicta. A ideia agradou e a reportagem avançou. Histórias de boleias a destinos incertos.