O HÓSPEDE DO HOTEL ABANDONADO

Numa viagem aos Açores, encontrei um velho hotel abandonado. Contornei o portão trancado com correntes e explorei todos os seus recantos. Subi até ao andar mais alto, onde deduzo que se situavam as suites mais exclusivas e deparei-me com a vista privilegiada para um dos cenários mais idílicos de Portugal: A Lagoa das Sete Cidades. Finalmente percebi porque os antigos hóspedes apelidavam aquelas janelas de "quadro vivo". Era para contar a sua história, mas o que devia ser a entrada, uma introdução ficcional e evocativa com meia dúzia de linhas, ganhou vida própria e tornou-se, ela mesma, no texto. Decidi que seria ele a ficar hospedado no Crónicas da Madrugada.

OS ANDARES DA PERCEPÇÃO

Há textos que nos fazem sorrir por dentro. Este é um desses. Aborda muitas questões, desde lutas e desígnios de vida, a arte, a ficção científica, os trilhos misteriosos do destino, a espiritualidade e o que Carl Jung chamava de sincronicidade. As palavras aqui escritas estabelecem um paralelismo com um filme, de forma quase umbilical. Não serão compreendidas na integra por quem não o tenha visto. E vão arruiná-lo a essas pessoas, pois o final é mencionado. Apesar disso, podem avançar. Há 519 palavras que podem ser lidas, antes de depararem com um sinal com essa advertência. Nesse caso, recuem e arranjem um momento nas vossas vidas para o ver. Regressem depois e, só então, subam a totalidade destes degraus da percepção.

O TANQUE QUE LAVA EPIFANIAS

Numa noite quente de Agosto de 2012, um conjunto caricato de coincidências levou-me a um velho edifício, na zona histórica de Viseu. Alguém destrancou duas portadas enormes e levou-me a um pátio, onde estavam a ser projetadas curtas-metragens ao ar-livre, junto a um velho tanque de pedra antiga. Esta iniciativa de dois viseenses, intitulada “Curtas ao Tanque”, cresceu e tornou-se no Shortcutz Viseu, um marco cultural incontornável da cidade. Hoje, 5 anos, 450 curtas, 320 convidados e 6000 espetadores depois, o evento contabiliza a centésima sessão. Em dia de festa, recordo o texto que escrevi na noite onde tudo começou.

MIGUEL E A JANELA DE LIVROS

É intemporal, o meu fascínio por Alfarrabistas. Tenho boas recordações de tardes inteiras em Londres, Barcelona ou Porto a explorar os seus corredores labirínticos, as suas prateleiras imensuráveis, os seus sótãos ou caves amontoadas com palavras antigas. Algumas dessas visitas inspiraram reportagens, que hoje testemunham casas que já não existem. Recentemente, descobri um em Coimbra. Descobri-o tarde demais. É mais uma casa que deixará de existir. Numa mísera tentativa de redenção, resolvi contar a sua história.

O MOSTEIRO

Era mais do que uma aventura em busca das ruínas de um velho e lendário mosteiro, perdido no coração de um bosque do Norte. Saboreei cada centímetro agreste do trilho, mas era mais do que isso. Era uma ode aos sonhos de juventude. São sempre maiores do que os imaginamos.

O VELHO E O FOGO

A missão era especial. Escrever uma reportagem sobre os 75 anos de um quartel de bombeiros. Nem coloquei a hipótese de usar uma estrutura convencional, árida, cronológica. O meu oásis seria o de sempre: um ângulo diferente. Parti em busca dele e senti-me finalmente saciado quando descobri um antigo bombeiro com 96 anos, que praticamente acompanhou a vida do quartel. Reuni com ele vários dias e ouvi relatos fascinantes. Não demorou muito até sentir que esse seria o caminho. Sentei-me na secretária e as palavras foram saindo, uma a uma. A noite prolongou-se até o sol entrar pela janela. Foi nesse momento que constatei que tinha contado a história através das vivências dele.

A ASSOMBRAÇÃO DA PORTA 18

O primeiro Halloween do Shortcutz Viseu foi assombroso. Decorria 2013 e os seus organizadores decidiram oferecer um espectáculo memorável à cidade. Uma maratona de oito curtas-metragens de cinema fantástico, projectadas num velho armazém abandonado na zona histórica. Entusiasmado e inspirado com a ideia, escrevi um pequeno texto em forma de teaser para servir de aperitivo ao evento. Foi no dia 18, na porta 18. Esta madrugada, recordo-o.

UMA CAMINHADA NA FLORESTA DAS ALMAS PERDIDAS

Um filme de terror português é um cenário raro no panorama cinematográfico nacional. Um sonho difícil de alcançar que uma equipa jovem decidiu perseguir. Na algibeira, um orçamento irrisório e uma vontade abastada. Foi filmado em Águeda, a minha terra natal, mas já se espalhou pelos quatro cantos do mundo, onde conquistou aplausos, vénias, prémios e o respeito da crítica internacional. Estas são algumas histórias nos bastidores da sua produção.
Load more