AREIAS NOCTURNAS
Há muitos, muitos verões atrás, numa praia não tão longínqua, ela sussurrou as palavras ao meu ouvido:
“When the night has come … and the land is dark…”
A areia estava fria. Ouvia-se à distância a revolta do mar noctívago; as ondas eram como trovões sem relâmpago, tal como o vento, madrugador, que assobiava na escuridão. Desse continuo fervor, a maresia chegava-nos aos rostos.
“And the moon is the only light we’ll see”
Tendo a brisa nocturna como rival, acariciava-lhe o cabelo loiro e saboreava cada uma das letras que escorriam da fonte que me saciara, cadenciadas, numa languidez apenas alcançável em praias e pensamentos desertos.
Já o olhar, esse ardia. Folheava nos seus olhos páginas e mais páginas de excitação e medo, escritas pelo punho da paisagem sombria. A mescla também era induzida por um ligeiro tremor dos lábios, vibração que quase, quase sentia tocar no meu lóbulo frio. Quase.
“No I won’t be afraid, no I won’t be afraid
Just as long as you stand, stand by me”
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