Autor: Victor Melo

UMA NOITE COM DRAVE SÓ PARA MIM «I – A Caminhada»

Decidi fazer o trilho que atravessa as montanhas e passar uma noite com Drave só para mim. Só eu, o silêncio e esta aldeia que chamam de mágica. Enchi uma mochila com mantimentos, uma tenda e um saco-cama e parti. A espontaneidade do plano presenteou-me com imprevistos. Daqueles bons, que nos enriquecem as jornadas. Conversei sobre as histórias, as tradições e o passado secular da aldeia. Depois veio o caminho, as paisagens de cortar a respiração, os encontros inesperados, as lendas arrepiantes, os desfechos surpreendentes.

A GARIMPAR IMAGINAÇÃO NAS RUÍNAS DAS MINAS DE VOLFRÂMIO

Hoje estão em ruínas, mas durante a II Guerra Mundial, estas minas de volfrâmio fervilhavam de atividade. Este minério abastecia o armamento do exército aliado e era tão valioso que deixava os homens loucos, a arder de “febre do volfrâmio”. Passei uma manhã a explorá-las e a imaginar os seus tempos áureos. Aventurei-me em covas profundas, vi maquinaria antiga, entrei em edifícios esventrados. É apenas o primeiro passo de um plano bem mais audaz.

CARTA A UM FILHO POR NASCER

A carta foi escrita na minha cabeça há um ano. Nas quatro horas passadas na sala de espera da maternidade e nas sete na sala de partos. A escrita era ansiosa e entusiasmada, viajava por todo o lado. Quando estava quase na hora da tua chegada ao mundo, corri cá fora e entreguei-a a um carteiro mágico, que usa barba lilás e tem uma scooter voadora. A carta estava selada num envelope, com a instrução: “Só entregar daqui a um ano”. Bateram à porta há instantes. Era ele, deixou-a cá para ti. Feliz aniversário filho!

MINGHELLA: O ÚLTIMO GUIÃO

No primeiro aniversário da morte do cineasta Anthony Minghella, escrevi um texto biográfico para o C7nema. Foi há 11 Marços atrás. Fechei-me numa sala com uma garrafa de vinho italiano e entreguei-me à tarefa. Hoje relembro-o, não só para assinalar a data, mas como um incentivo para descobrir ou redescobrir os filmes deste grande realizador com alma de escritor.

PAULICEA: A MANSÃO ASSOMBRADA DA MINHA INFÂNCIA

Durante décadas esta casa abandonada intrigou o imaginário popular de Águeda. Muitos diziam estar assombrada. Já outros, juravam que escondia passagens subterrâneas para tesouros antigos. A mim, despertava-me um fascínio intenso desde criança.
A casa já não existe, mas enquanto existiu, estive lá dentro, explorei todos os seus recantos e até conversei com quem já lá viveu. Medo, deslumbramento, memórias, curiosidade, assombro, superstições. Estas são as histórias da Mansão da Paulicea.

O MANTO QUE NÃO SE RASGA

Já tinha ouvido falar da sala vermelha. Por vezes ouvem-se gritos que rasgam a noite e ecoam nas paredes e nas grades desta velha prisão. Dizem que eles vêm sempre lá de dentro. Habituámo-nos a conviver com esse fantasma de tijolos e azulejos, esse antro mórbido que nos aterroriza mas, ao mesmo tempo, nos ajuda a relativizar tudo o que passamos cá dentro.

JOÃO SILVA: CONFISSÕES DE UM MEMBRO DO BANG-BANG CLUB

Um grupo de quatro fotojornalistas cobriu os violentos conflitos no pós-appartheid da África-do-Sul. Destacavam-se dos outros pois acompanhavam a violência lado a lado. Kevin Carter, Greg Marinovich, Ken Oosterbroek e João Silva. Foram apelidados de “Bang Bang Club” e as suas façanhas inspiraram livros, documentários e até um filme de Hollywood. Um deles é português e a paixão pela profissão quase lhe custou a vida. Estive com ele e ouvi as suas histórias.