─ Los campings están cerrados en esta época del año.

O puto não desanimou com a resposta do polícia. No fundo sabia que eram poucas as esperanças de encontrar um parque de campismo aberto numa madrugada de Janeiro na pequena povoação de Alcántara. No entanto, pareceu-lhe uma boa explicação à questão do agente, que o tinha mandado parar momentos antes, curioso com o que andava a fazer um rapaz português numa scooter cheia de tralha, no meio da noite às voltas no centro daquele pacato ‘pueblo’. A maior dúvida foi sobre a resposta à segunda questão, relativa ao seu destino. “Digo-lhe? Se calhar é melhor não. Ou digo?”, debatia-se, num divertido dilema mental. “Que se lixe, vou dizer”.

─ Vou para a Alemanha. ‘Concentración de motos’.

O polícia arregalou os olhos e com a boca entreaberta numa expressão de espanto, limitou-se a fazer um gesto com o braço a mandá-lo seguir viagem. E o Puto seguiu, a rir-se desalmadamente dentro do seu capacete branco; a loucura do que estava a viver era palpável pela incredibilidade de todos os que encontrava no caminho.

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Bem carregada, a Buxy descansa junto à estrada enquanto a noite já caiu sobre o país vizinho

 

Esgotada a possibilidade do parque, é preciso encontrar uma solução para dormir. No dia seguinte precisa de meter gasolina, por isso resolve procurar umas bombas de abastecimento e tentar acampar lá perto. Após algumas voltas, encontra-as. Estão desertas. Contorna-as, as traseiras ficam viradas para um pinhal. “É aqui mesmo”. Retira a tenda e monta-a encostada à parede, com a motorizada à frente. Lá dentro, já despido do espesso e desconfortável fato de neve, escreve pela primeira vez no bloco de notas. O cansaço afeta-lhe a caligrafia, mas escreve pelo menos duas páginas. É a primeira noite da sua aventura, o saco-cama pode esperar mais uns minutos.

Acorda às 9h00 com o ruído dos carros. Recolhe o material e entra no estabelecimento para tomar o pequeno-almoço. O empregado não toca no assunto do acampamento improvisado, por isso opta por também não dizer nada. Decide comprar um pote de cinco litros, para contornar a baixa autonomia do tanque da scooter e não estar tão dependente da necessidade de ter de encontrar postos de abastecimento de 100 em 100 quilómetros e conjugar os seus horários de abertura com os da sua rota. Atesta o depósito, depois o pote, perde alguns segundos a descortinar onde raio o vai carregar e arranca. Próxima paragem: Cáceres.
Deixa Alcántara para trás, sem ter noção que algures durante a noite anterior passou por aquela que é a ponte mais alta construída pelo império romano. Um esplendoroso feito arquitetónico, erguido no ano 106, com seis arcos e 61 metros de altura. Junto à sua base, onde passam as águas do Tejo, está enterrado o arquiteto, Caio Júlio Lacer, que na altura profetizou que a ponte perduraria “ao longo dos séculos do mundo”.

Replaneamento

Compra pão, paio e queijo num supermercado de Cacéres. Mete tudo num saco plástico e conduz até ao centro histórico, à procura de um sítio agradável para comer. Almoça nos degraus da enorme Plaza Mayor. Aproveita para consultar o mapa e voltar a traçar a rota, voltando a amaldiçoar o facto de se ter esquecido do roadbook em Portugal. Trujillo, Madrigalejo, Piedrabuena, são algumas das povoações que vai atravessar, até alcançar Ciudad Real, bem no centro de Espanha, onde pensa pernoitar. São 275 quilómetros que pensa fazer em cerca de quatro horas de viagem, na sua média de 80km/h.

Entra em Ciudad Real ao final da tarde. Olha para o relógio e constata, com alegria, que vai ter tempo para visitar a cidade. É sua primeira visita turística desde que deu início à aventura. Passeia pelas ruas, a sua Buxy consegue levá-lo até pelas mais exíguas ruas do centro histórico. Espreita a imponente torre da catedral, delicia-se com a fascinante arquitetura do edifício da Câmara, observa o entardecer a tingir de vermelho as paredes de pedra da Plaza Mayor. Tinha pesquisado sobre a cidade e sabe que é a capital da região histórica de La Mancha. Resolve pedir indicações para o Museu Dom Quixote. Por três vezes depara-se com olhares confusos acompanhados da frase “no te entiendo”. É entendido à quarta tentativa, mas encontra o museu fechado. Come umas tapas numa esplanada e resolve manter a tradição iniciada na noite anterior. Parte em busca de umas bombas para acampar.


Rumo ao mediterrâneo

Arranca de Ciudad Real às nove da manhã, rumo a Valência, na costa mediterrânica. Um esticão de 350 quilómetros. Está um frio de rachar no interior espanhol, tanto que tem dificuldade em mover os dedos da mão esquerda ao acionar o travão. Para além disso está nevoeiro. Percorridos cerca de 30 quilómetros, sente o nevoeiro cada vez mais cerrado, ao ponto de ter dificuldades em ver a estrada. Levanta a viseira do Capacete e constata que afinal não está nevoeiro nenhum. A viseira é que está congelada, cheia de gelo acinzentado. Tenta limpá-la em vão, a camada de gelo é espessa e está demasiado colada ao plástico. Vai precisar de água. Continua a viagem, de viseira aberta, em busca de um posto de abastecimento. Demora pelo menos trinta minutos até encontra um. Estaciona junto à mangueira da água e lava a viseira, que fica transparente outra vez.

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Resolve ir tomar um café. Ao sair da mota, cruza com um casal e acha ligeiramente estranho o facto de se terem começado a rir após passarem por ele. Não liga, segue, abre a porta e deixa passar um tipo que estava de saída. Notou que o tipo levou a mão à boca a tentar controlar uma gargalhada. “Outra vez?”. Começa a ficar intrigado. Vai ao balcão e antes que pudesse pedir um café, já o empregado está engasgado de riso, atrapalhado e a tentar em vão pronunciar a palavra “perdon” no meio das risadas. “Epá mas que raio se está a passar?”, pensa, abrindo as mãos em jeito inquisitivo.

– Sus cejas, sus Cejas! Un montón de hielo!

– O quê?! – responde, enquanto pensa: “estes gajos andam passadinhos da cabeça!”

O empregado sai do balcão e leva-o a um expositor de óculos escuros, onde existe um espelho.

– Mira!

É nesse momento que o Puto constata que tem as sobrancelhas e as pestanas completamente congeladas. Estão densas, grossas e cinzentas, como um Álvaro Cunhal das neves. Há pedacinhos de gelo a pender sobre as pontas, parecem minúsculas estalactites que brilham à luz das lâmpadas e ainda mais à do sol. Sai para a rua e imortaliza o caricato episódio com um auto-retrato.

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Efeitos das manhãs invernais no interior espanhol

Regressa ao seu expresso, troca umas palavras com o empregado e volta à estrada. Nesta zona de Espanha as retas são longas e rasgam planícies que se estendem para lá do olhar. Faltam algumas dezenas de quilómetros para chegar a Albacete, cidade cujo nome deriva do árabe ‘Al-basi’, que significa precisamente “planície”.
Encontra um pequeno supermercado na extremidade oeste da cidade. É um espaço muito exíguo e rústico. Para além das prateleiras com os produtos, tem três mesas num canto onde é possível petiscar. Pede duas sandes ao proprietário, um simpático velhote com cabelo grisalho encaracolado e ar bonacheirão. Ao tomar conhecimento da sua natureza forasteira, não hesita em partilhar – enquanto corta o ‘jamón’ – que em Albacete “se hacen los mejores cuchillos de toda España”. O puto percebe instantaneamente que ‘cuchillos’ são facas ao ver o velhote brandir o objeto durante a sua exclamação.

Compra alguns mantimentos suplementares e prossegue a viagem. Atravessa a cidade sem parar e segue pela estrada 322 para nordeste. O céu está pardo e caiem alguns chuviscos de vez em quando, mas a aragem está surpreendentemente morna. Após cerca de hora e meia, enquanto atravessa a povoação de Casas-Ibáñez, trava abruptamente a motorizada ao avistar uma placa. Desliga a ignição, dá alguns passos. Desde que saíra de Albacete sabia que ia ter de enfrentar esta decisão. Tem o olhar preso nos traços negros que destacam as palavras ‘Alcalá del Júcar’ no retângulo caiado que o direciona 19 quilómetros para Sul. Deixa que a chuva lhe escorra pelos longos cabelos loiros, talvez isso lhe refresque o ímpeto. O desvio não é grande, mas pretende chegar ainda hoje a Valência e ainda tem algumas horas de viagem pela frente. Olha para o céu, os dias invernais são curtos e já não falta muito para escurecer. Suspira fundo, coloca o capacete na cabeça com alguma pena, monta no seu cavalo mecânico e arranca sem olhar para trás. Sabe que ao longo desta aventura vai encontrar vários sítios que gostaria de visitar mas que terá de ignorar, pois o itinerário, os prazos estimados de viagem e o derradeiro destino são prioritários. Alcalá del Júcar é um desses sítios. Há alguns anos viu um postal com uma povoação de pequenas casas caiadas, aconchegadas umas nas outras e alojadas numa colina de pedra, com um imponente castelo árabe no topo. A visão, a partir de um riacho no sopé da colina, tinha-o deslumbrado e jurara a si mesmo que um dia ia testemunhar essa paisagem com os seus próprios olhos. Quando começou a traçar o mapa desta aventura, soube que ia ter uma oportunidade para satisfazer esse desejo. Optou por abandoná-lo e embora estivesse convicto da sua decisão, o ruído monocórdico do motor e a visão da chuva a cair no asfalto pareciam alongar a melancolia desse abandono.

Sabe que ao longo desta aventura vai encontrar vários sítios que gostaria de visitar mas que terá de ignorar, pois o itinerário, os prazos estimados de viagem e o derradeiro destino são prioritários


La ciudad fantasma

“Mas o que raio se passa nesta terriola?”. É o terceiro posto de combustível que encontra fechado na pequena povoação de Requena. Não é tarde, são 21h30, mas toda a cidade parece ter-se deitado com as galinhas. Não são só as bombas, todos os bares e restaurantes que encontra pelo caminho estão fechados. É impreterível encontrar um posto de abastecimento, pois não tem combustível para prosseguir viagem. Farta-se de dar voltas e encontra outro, também fechado. Mentaliza-se que vai ter de pernoitar aqui. Deixa a motorizada nas traseiras mas não monta a tenda. É cedo, decide ir dar uma volta. Olha para a Buxy, cheia de tralha, com cordas e sacos plásticos por todo o lado e conclui que o seu aspeto desencorajará qualquer larápio de se aproximar. Mesmo assim, leva consigo os pertences de maior valor e parte para explorar a cidade fantasma. A expressão adequa-se, não encontra ninguém nas ruas e são poucas as luzes acesas nas janelas. Percorre algumas ruelas do centro histórico e desagua num largo, onde encontra uma enorme fonte redonda em pedra, sem pinga de água. Abana a cabeça e regressa às “bombas de campismo”, intrigado pelo silêncio de Requena e aborrecido por ter sacrificado Alcalá del Júcar em vão.

O Puto desperta sobressaltado. Está cheio de frio. Olha para a manga direita, está branca. Todo o fato está coberto de geada. Dera-lhe a preguiça na noite anterior. Não lhe apeteceu montar a tenda e resolveu improvisar. Encostou a scooter a um metro da parede e deitou-se lá no meio, com a colchonete por baixo e dois dos sacos-cama atravessados entre o topo da scooter e uma saliência na parede, numa espécie de alpendre inventado. O fato de neve chegava para o abrigar e manter quente, pensara. Agora colhia, trémulo, os frutos da invenção. Sacudiu o fato, pediu ao empregado as chaves da casa de banho e secou-o parcialmente nos secadores das mãos. Bebeu um café, encheu o tanque e o pote e apontou a bússola na direção do mar.
Alcança-o a meio da manhã. Valência, finalmente. Tinha atingido um marco importante da viagem, Espanha estava oficialmente atravessada de Oeste a Este e agora era só subir a costa até à fronteira com França. Atravessa a cidade em direção à costa. O calor mediterrânico faz-se sentir. “Vou assar dentro disto”, pensa, desejoso por despir o fato térmico. Encosta num pequeno miradouro junto ao mar, aguarda por um momento mais solitário e muda de roupa mesmo ali. Há quatro dias que não despia o fato, que até ali lhe tinha dado um precioso conforto térmico mas agora o calor derretia a insignificância das suas inconveniências e deixava-as bem à vista. O peso, a prisão de movimentos, a transpiração excessiva das botas. Sentia-se agora outro, de sapatilhas, calças de ganga e casaco corta-vento. É assim que percorre a avenida Carrer de Pavia, inundada de sol e ladeada pelas palmeiras, a areia dourada e o azul do mediterrâneo. Após vários dias enregelados e encharcados, é indescritível a sensação de ter raios de sol que lhe queimam ligeiramente a pele. Atravessa a avenida Mare Nostrum e entra na N-340, que o levará até Barcelona. A diversidade paisagística da costa valenciana apaixona-o. São muitos os quilómetros percorridos com as montanhas a acompanhar o mar. Quando vislumbra a cordilheira de Desert de les Palmes à esquerda, fica impressionado com a sua proximidade ao mar, mas cerca de 15 minutos depois encontra o cenário oposto, à sua direita está a Serra d’Irta com os seus 500 metros de altitude que lhe ocultam o mediterrâneo.


Barcelona à Vista

O Puto entusiasma-se quando avista, ao longe, a palavra Barcelona pela primeira vez numa placa. “Já não deve faltar muito”, pensa, ansioso por um dos seus pontos sublinhados no mapa. Nunca foi à capital da Catalunha e espera conseguir visitá-la, pelo menos minimamente. Fica ligeiramente desconsolado quando a proximidade lhe permite distinguir os três números à frente do nome da cidade: 333. “Ainda estás longe, mas nunca estive tão perto de ti”. Pára a scooter em frente à placa e regista o momento.
Após algumas horas na estrada, resolve pernoitar em Tarragona, pequena cidade portuária a 100 quilómetros de Barcelona. O sol já se começou a esconder e o Puto faz questão de entrar na cidade olímpica durante o dia. Encontra um posto de abastecimento, estaciona a scooter e resolve ir pedir autorização ao empregado para acampar nas traseiras. A questão acaba por não ser colocada. Quando dá por ela já estão há três horas a conversar animadamente sobre aquele plano doido, já chegaram amigos do empregado, já se partilharam cervejas. Desde que partiu de Portugal o Puto apenas estabelecera conversas ocasionais de meros instantes, já sentia falta de um genuíno momento de convívio. Já a noite ia longa quando o empregado lança a pergunta:

– E agora, vais dormir onde?

Abana a cabeça quando o Puto lhe propõe acampar nas traseiras. Mete a mão ao bolso e retira de lá uma chave.

– Estou a fazer o turno da noite, por isso podes ficar a dormir no meu carro até eu sair.

Surpreendido e sensibilizado, o Puto dá-lhe um abraço. Sai para a aragem fria da madrugada, destranca a porta e aloja-se no banco de trás do Golf. Já não terá muitas horas de sono, mas vai dormir confortável. Retira o bloco da pasta e escreve durante alguns minutos. “Penso que amanhã o dia me vai correr melhor” é a frase que antecede o clique da lanterna e o ruído do fecho do saco-cama.
Desperta às 8h00 com três pequenas batidas no vidro. Antes da despedida, é informado que junto às casas de banho há chuveiros que ele pode utilizar. 100 pesetas garantem-lhe cinco minutos de água quente. É o primeiro banho após quatro longos dias na estrada. Insere três moedas.


Obstáculos olímpicos

“Não acredito, outro?”. É o terceiro túnel que encontra para entrar em Barcelona, todos com acesso interdito a ciclomotores. Anda pelo menos duas horas às voltas até encontrar uma entrada. “Esta cidade é lindíssima, mas os acessos são complicados”. O pensamento é interrompido pelo toque do telemóvel. Reconhece o número, é de uma estação de rádio, para a entrevista diária. Está no meio do trânsito caótico de Barcelona, filas, buzinas, peões impacientes. Opta por subir uma rotunda e é entrevistado lá no meio, indiferente às centenas de carros que o contornam.

Continua a perder-se no meio do quotidiano acelerado da metrópole. Por fim, desagua no Porto Olímpico, onde opta por parar. Senta-se num muro junto à marginal, na companhia de um Big Mac e uma Coca-cola. O tempo perdido às voltas deixou-o um pouco desgastado. Opta por permanecer uma hora naquele local, a relaxar o olhar e os restantes sentidos naquele mar sem ondas cuja serenidade se estende até ao horizonte.
Deve ter permanecido ali mais tempo do que o previsto. Levanta-se com um salto. Alonga o corpo, respira fundo, sente-se revigorado, confiante. Senta-se na scooter e deixa que a brisa morna mediterrânica lhe agite os longos cabelos louros, antes de colocar o capacete na cabeça e arrancar, triunfante, ignorando o facto que irá passar as próximas quatro horas perdido a tentar encontrar a saída da cidade na direção de Girona.

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No cansaço da estrada cada placa é um sopro de encorajamento

 

Perdeu a conta às povoações que encontrou pelo caminho com a designação “Del mar”, até alcançar a cidade que os romanos batizaram de ‘Gerunda’. Já é de noite, mas França já está perto. Opta por encher o depósito e seguir viagem. A norte atravessa a vila natal de Salvador Dali, Figueres, convicto que os percalços do dia já tinham sido esgotados. Um enorme sinal indica-lhe que a estrada nacional está encerrada para obras e que a sua convicção estava errada. Está escuro como breu e o Puto está cansado, o dia foi longo, talvez o mais longo de todos. E agora, a meros trinta quilómetros de França, cortam-lhe o caminho. Enquanto deambula pela zona, vê uma placa com a indicação ‘AP – 7 La Jonquera’, a povoação fronteiriça que pretende alcançar. A placa é azul. É uma autoestrada.
Sabe que essa via lhe é interdita, mas opta por seguir a seta, enquanto pensa no que fazer. Esse tempo para arejar ideias esgota-se num instante, pois a poucas centenas de metros depara com a barreira da portagem. Segue-se um momento de dúvida, de hesitação. Sabe perfeitamente que pode ser multado, rebocado ou, na pior das hipóteses, ter um acidente grave. Por outro lado, está farto de tempo perdido e voltas em vão. Retira o ticket, observa a cancela erguida à sua frente. Algures, um neurónio acelera um impulso eletroquímico que atravessa as células do seu corpo até chegar ao seu punho direito, que começa a rodar. Primeiro um bocadinho. Depois a fundo.

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